Construção civil se abre à logística reversa
Setor ainda tem iniciativas incipientes no trato de resíduos, mas há bons exemplos em outras áreas industriais a serem seguidos -20 de junho de 2012 -Por: Altair Santos
A LOGÍSTICA NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL BRASILEIRA |
A lei 12.305, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos,
entrou em vigor a partir de decreto publicado em 2010. Por enquanto,
apenas seis setores têm obrigação de cumpri-la. São os de óleos
lubrificantes, agrotóxicos, pneus, pilhas e baterias, lâmpadas
fluorescentes e de produtos eletrônicos. Até 2014, outros setores, entre
eles o da construção civil, terão de passar a obedecer a legislação.
Por enquanto, eles encontram-se no estágio de acordo setorial, que
envolve a negociação entre empresas e governo, no sentido de equacionar a
logística reversa de seus produtos.
Nos próximos dois anos, a expectativa é que a lei seja implementada
gradativamente. Segundo o presidente do Conselho de Logística Reversa do
Brasil (CLRB) Paulo Roberto Leite, não haveria como o país impor a
legislação assim que ela foi criada. “É preciso compreender a
complexidade que é fazer funcionar a Política Nacional de Resíduos Sólidos
em um país com uma área superior a oito mil quilômetros quadrados e
regiões muitas vezes inacessíveis. Antes, é preciso organizar pontos de
recepção, os meios de transporte mais adequados, as armazenagens dos
produtos, o reaproveitamento, enfim, toda a cadeia de logística reversa
precisa ser equacionada”, explica.
No que tange à questão da construção civil, Paulo Roberto Leite lembra
que até 2014 os entulhos de obras não poderão mais se misturar aos
resíduos domiciliares – comumente chamados de lixões no Brasil -, e
terão de ter depósitos específicos. Por isso, ele cita que há outros
setores que podem servir de exemplo para que a construção civil se
adapte à Política Nacional de Resíduos Sólidos. “Há
áreas que, por motivos legais, estão trabalhando muito bem. É o caso,
por exemplo, de retorno de embalagens vazias de agrotóxicos. Desde 2000,
as indústrias usam essa gestão como benchmarking nacional e
internacional. Hoje, a cadeia produtiva do agrotóxico retorna 95% das
embalagens e tem mais de 500 postos de coleta no país”, afirma.
A indústria de pneus é outro setor que pode servir de modelo à
construção civil. “É outra área que já atingiu um nível ótimo de gestão
de resíduos”, comenta o presidente do CLRB. Para Leite, atualmente um
dos principais problemas da destinação dos entulhos de obras está
relacionado às empresas que os recolhem e que, nem sempre, são
credenciadas ambientalmente. “As não credenciadas não dão conta
corretamente do entulho que retiram dos canteiros de obras e acabam
jogando isso em terrenos baldios. O setor vai ter de corrigir isso”,
avalia
Paulo Roberto Leite entende que se a construção civil souber implantar a
sua política de logística reversa poderá obter ganhos econômicos,
principalmente com o reuso de matérias-primas. Só para se ter uma ideia,
segundo dados do CLRB e da Associação Brasileira de Logística (Aslog), a
logística reversa movimenta atualmente no país cerca de US$ 20 bilhões
por ano. Esse valor poderia crescer se o volume de empresas preocupadas
com o reuso de materiais fosse maior. Hoje, apenas 5% das companhias
instaladas no Brasil têm essa preocupação. Além disso, somente 10% dos
produtos vendidos retornam para serem total ou parcialmente
reutilizados.
A logística reversa sempre existiu nas empresas, só que limitada a duas
áreas: a dos produtos que retornam sem serem consumidos seja por
pequenos defeitos ou por terem se tornado obsoletos no mercado, o que
convencionou-se chamar de logística reversa de pós-venda, e a dos que
foram consumidos, que cumpriram sua vida útil, mas deixaram resíduos
utilizáveis. Nesta categoria, há dois tipos de produtos: os, cujos
resíduos, têm valor agregado e econômico importantes, por isso o mercado
os faz voltar sem muita dificuldade, como metais, peças de motores e
equipamentos de medicina, e os que não retornam, pois seus resíduos não
têm valor agregado suficiente e não conseguem remunerar a cadeia de
retorno. É o caso típico de plásticos, embalagens Tetra Pak e entulhos
de obras. Reverter esse quadro será o desafio da cadeia produtiva da
construção civil.
Entrevistado:Paulo Roberto Leite, presidente do Conselho de Logística Reversa do Brasil
Fonte:.cimentoitambe.com.br/construcao-civil-se-abre-a-logistica-reversa/