26 janeiro 2016

LIGAÇÕES ENTRE A SUSTENTABILIDADE E OS SETORES DE RECURSOS HUMANOS

Empresas sustentáveis e o papel dos recursos humanos

A sustentabilidade implica uma nova forma de considerar a gestão empresarial em que a internalização da preocupação com pessoas, planeta e lucro está disseminada.
Frequentemente, no âmbito de questionários relacionados com reputação e resultados, as empresas veem o escrutínio público e a avaliação interna refletir o seu desempenho e compromisso nos domínios ambiental e social.

Tais questionários são reveladores de que o sucesso e afirmação no mercado das empresas já não dependem só de aspectos econômicos.

Assim, tem-se vindo a verificar uma crescente necessidade de afirmação das empresas no domínio da sustentabilidade. Cada vez mais, no discurso e na acção empresarial este domínio constitui uma preocupação da gestão, sendo divulgados inúmeros relatórios de sustentabilidade.

O conceito de sustentabilidade, conforme inicialmente apresentado pelo World Business Council for Sustainble Development (2005), encerra em si a preocupação de "responder às necessidades das pessoas de hoje sem comprometer a capacidade das gerações futuras responderem às suas próprias necessidades" 1 . Transposta para o domínio empresarial, embora com definições diferentes, é partilhada a acepção de que a sustentabilidade da empresa é a capacidade que esta tem de prosseguir os seus objetivos, criando valor e integrando os desafios econômicos, ambientais e sociais nas suas estratégias de ação.

Importa pois ter em consideração alguns dos fatores diferenciadores das empresas sustentáveis. Estas são empresas que ancoram a sua ação na implementação e difusão, de forma consistente, de valores orientados para a sustentabilidade. Em síntese, promovem o alinhamento das questões da sustentabilidade na definição da estratégia empresarial, assegurando a integração dos diferentes intervenientes (stakeholders) e garantindo que a sua ação não compromete nem o negócio presente, nem as gerações futuras.

A sustentabilidade implica então uma nova forma de considerar a gestão empresarial em que a internalização da preocupação com a Tripple Bottom Line (pessoas, planeta e lucro) está disseminada por toda a organização, independentemente da função ou nível hierárquico ocupado. Tal preocupação manifesta-se em todas as decisões, independentemente do seu propósito ou alcance.
LIGAÇÕES ENTRE A SUSTENTABILIDADE E OS SETORES DE RECURSOS HUMANOS
LIGAÇÕES ENTRE A SUSTENTABILIDADE E OS SETORES DE RECURSOS HUMANOS

Esta nova forma de gerir pressupõe uma mudança profunda em que a Gestão de Recursos Humanos (GRH) se constitui como fator crítico. Apenas através de uma liderança forte e alinhada com os objetivos de sustentabilidade se consegue fomentar e consolidar nos trabalhadores valores consonantes com esses objetivos.

Nesta perspectiva, e atendendo ao papel dos recursos humanos na organização, entende-se a importância destes em termos de diferenciação e vantagem competitiva. É através da preservação dos recursos, maximização da eficiência organizacional, reforço da imagem da empresa e do seu valor reputacional, aumento das competências, qualidade de vida e envolvimento dos seus trabalhadores que as organizações sustentáveis baseiam a sua ação.

Moreira (2006) 2 , sem nunca remeter para a sustentabilidade, no seu modelo de gestão estratégica de pessoas alerta para o papel da GRH na criação de condições de desenvolvimento e, simultaneamente, de diferenciação como determinantes do sucesso organizacional. Assim, o atual desafio da gestão de pessoas incide na capacidade de criar condições para o trabalhador conhecer e se apropriar do projeto organizacional, tornando sua a causa da empresa sustentável.

De acordo com o autor citado "a noção de projeto de empresa é o núcleo gerador do sistema organizacional e, consequentemente, da filosofia de Gestão de Pessoas". Com efeito, o projeto de sustentabilidade deve derivar da missão da empresa e consolidar-se através de um conjunto de ações que reforcem a apropriação e internalização pelo trabalhador.

Neste contexto, à liderança impõe-se o papel de dinamizadora e impulsionadora de um novo modo de estar e fazer negócio, norteado por uma lógica de criação de valor, preservação de recursos e desenvolvimento global, assegurando condições de desenvolvimento e coesão.

Dos trabalhadores, através de uma gestão sustentável de pessoas, espera-se uma colaboração intensiva, no sentido da mudança da forma de estar no negócio e na empresa.

À GRH impõe-se, neste contexto, uma orientação no plano individual para o desenvolvimento de competências e autonomia, e no plano conectivo para a aprendizagem organizacional, coesão e desenvolvimento.

Consideramos que é essencial que o projecto de empresa se fundamente nos princípios de sustentabilidade materializados no domínio da gestão sustentável dos recursos humanos através de um conjunto de acções visando, nomeadamente:

a. Dotar o individuou de valores e competências que lhe permitam agir e transformar o projecto de trabalho (dimensão de selecção de pessoal);

b. Criar condições de aposta na organização e no trabalho, independentemente da relação de vinculo (remuneração);

c. Fomentar condições de autonomia, capacidade de decisão e empreendedorismo do indivíduo (avaliação);

d. Garantir condições individuais e organizacionais de aprendizagem ao longo da vida e valorização de talentos (formação);

e. Informar, responsabilizar e prestar contas da sua acção e dos impactos e medidas preventivas/correctivas (comunicação); e

f. Fomentar a coesão e desenvolvimento através da diversidade, multiculturalismo e colaboração (gestão ética).

Sendo um desafio recente para as empresas, a sustentabilidade não se apresenta como uma opção. Contrariamente, constitui-se como um imperativo que se baseia numa mudança organizacional e cultural e obriga a uma reflexão aprofundada sobre as opções do presente e os impactos no futuro das pessoas, da organização, das comunidades e do próprio planeta.
Fonte do texto: .jornaldenegocios/abrhba.org.br
 
LIGAÇÕES ENTRE A SUSTENTABILIDADE E OS SETORES DE RECURSOS HUMANOS
LIGAÇÕES ENTRE A SUSTENTABILIDADE E OS SETORES DE RECURSOS HUMANOS
 
 O departamento de Recursos Humanos em uma empresa desempenha o papel vital de trazer esse foco nas pessoas para uma estratégia de sustentabilidade corporativa. Em janeiro de 2011, o evento Mesa-redonda em Recursos Humanos IMD-CSM reuniu peritos da instituição – professores Cyril Bouquet e John Weeks – e de organizações como o World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) – Associação mundial formada por cerca de 200 empresas, de 35 países, para tratar exclusivamente de negócios e desenvolvimento sustentável – e a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), com altas perspectivas de Recursos Humanos e gestores em sustentabilidade de 26 empresas globais. O encontro resultou em um diálogo provocativo que gerou alguns “valores de cabeceira” e as seguintes conclusões sobre o papel do RH na promoção do engajamento e da liderança em sustentabilidade:
 
1) Incorporar estratégias em sustentabilidade às operações e atividades corporativas só é possível se orientadores e ações motivacionais estiverem alinhados em relação a premiações, contratações, práticas e políticas de desenvolvimento de talentos e lideranças;

2) O RH tem um papel fundamental de assegurar consistência entre orientações estratégicas e ações corporativas diárias. O departamento pode atuar como uma “ouvidoria interna”, apontando inconsistências, e também ajudar a empresa a lidar com situações adversas;

3) O RH também desempenha função importante na formação de “embaixadores internos” para estratégias em sustentabilidade e treinamento de funcionários durante processos de mudança;

4) Quando se trata de levantar novos problemas no radar corporativo, a função da sustentabilidade é proporcionar conteúdo. E a do RH, oferecer suporte à implantação do conhecimento;

5) A sustentabilidade pode ser aplicada com sucesso em processos de recrutamento e programas de capacitação de funcionários. Para diferentes graus, dependendo do setor, a previsão é de que encontrar talentos será mais difícil. E as empresas com visão em sustentabilidade que forem capazes de articulá-la muito bem e mostrar resultados transparentes quanto às boas práticas terão vantagens em atrair novos talentos.

As discussões do evento sinalizaram, ainda, alguns desafios para a área de Recursos Humanos. Primeiro, deve-se considerar que, em geral, as expectativas em relação ao RH são bastante elevadas, mas nem sempre o mesmo ocorre com sua reputação. Aumentar a credibilidade interna e “obter direitos básicos” são imprescindíveis para que o departamento possa cumprir um papel proativo em apoiar estratégias para a sustentabilidade. Além disso, o RH pode trazê-las para um nível mais humano, com o qual os gestores se identifiquem, e mais alinhado aos princípios do “conheça a si mesmo, seu negócio e sua equipe”.

Segundo, as pessoas costumam falar com entusiasmo sobre valores e princípios, mas revelam certa resistência quando precisam transformar palavras em ações e promover mudanças de comportamento. Os sistemas de RH têm potencial para ajudá-las a superar essas barreiras, desde que:

1) A mudança de comportamento seja posicionada em um grau estratégico pelo topo da gestão;

2) O RH atue como um consultor interno em vez de mero executor;

3) Os gerentes envolvam-se com as estratégias desde o início, já que as mudanças geralmente tornam-se reais e tangíveis quando coordenadas por gestores desse nível hierárquico;

4) A iniciativa seja construída e sustentada por um trabalho de RH engajado, demonstrando que o progresso está acontecendo e que é parte natural do negócio;

5) A integração da sustentabilidade no setor de RH dependa do alinhamento efetivo com o propósito corporativo.
Fonte: .ideiasustentavel.com.br