03 agosto 2016

MINIMIZAÇÃO DOS RESÍDUOS ATRAVÉS DA RECICLAGEM DA CONSTRUÇÃO CIVIL

Minimização dos Resíduos da Construção

A quantidade de resíduos gerados pelas atividades construtivas tende a crescer em decorrência de processos de renovação urbana, pela revitalização de centros urbanos e novas edificações, solicitadas pelo crescimento populacional e déficit habitacional.


MINIMIZAÇÃO DOS RESÍDUOS ATRAVÉS DA RECICLAGEM DA CONSTRUÇÃO CIVIL
MINIMIZAÇÃO DOS RESÍDUOS ATRAVÉS DA RECICLAGEM DA CONSTRUÇÃO CIVIL

Os países da Europa Ocidental geram entre 0,7 e 1,0 tonelada de RCD por habitante/ano, correspondendo ao dobro dos demais resíduos sólidos gerados pela sociedade (PERA, 1996). No Brasil, são gerados 68 milhões de toneladas por ano de RCD; a produção média de resíduos por habitante é de 0,5 t/hab. ano, o que corresponde a quase 50% da massa dos resíduos sólidos urbanos (ANGULO, 2002). Esse volume de resíduos impacta o meio ambiente, podendo causar assoreamento de rios, contaminação do lençol freático, entupimento dos sistemas de drenagem e propagação de vetores.


 
A minimização dos resíduos da construção civil está baseada na redução quantitativa, que poderá ser realizada pela redução na fonte geradora, por meio de mudança de tecnologia, mais limpa e menos poluidora, pela substituição da matéria-prima, pela reutilização dos resíduos no próprio processo produtivo, sem precisar processá-los (os resíduos passariam por uma triagem, adequação e transformação); e, finalmente, pela reciclagem, que seria o reprocessamento gerando um novo produto. No processo produtivo, os resíduos podem ser entendidos como uma ineficiência do próprio processo (Figura ABAIXO), e a minimização produz um ganho com o aumento do produto (JOHN, 2000).


 MATÉRIA - PRIMA ----------PROCESSO PRODUTIVO--------PRODUTO (Aumento do produto)
                                                             I
                                                           RESÍDUOS
                                             (Ineficiência do produto)

Figura  - Resíduos (ineficiência do processo produtivo)

Na figura acima, a matéria-prima, ao passar pelo processo produtivo, deverá gerar a menor quantidade de resíduos possíveis; consequentemente, haverá um aumento do produto.

A geração de resíduos seria uma ineficiência do processo de produção, que deverá ser corrigida por meio da minimização dos resíduos.


MINIMIZAÇÃO DOS RESÍDUOS ATRAVÉS DA RECICLAGEM DA CONSTRUÇÃO CIVIL
MINIMIZAÇÃO DOS RESÍDUOS ATRAVÉS DA RECICLAGEM DA CONSTRUÇÃO CIVIL

Reciclagem na Construção Civil
Diversas pesquisas desenvolvidas por universidades ratificam a utilização de resíduos como matéria-prima na confecção de produtos para construção civil, ao exemplo do agregado britado que, quando peneirado, pode ser aplicado como enchimento em drenagem, ou em sub-base, base, contra - piso, argamassas e blocos, entre outros.
Fatores como o conhecimento da quantidade e a composição dos resíduos, e o seu impacto sobre o meio ambiente, deverão ser analisados, fornecendo subsídios à utilização dos RCD na substituição parcial ou total da matéria-prima nos processos produtivos da construção civil.
Nesse sentido, Xavier e Rocha (2001) propõem, para equacionamento da reciclagem, avaliações básicas como verificação do volume gerado de resíduos, identificação da composição e proporção dos componentes, estabelecimento das áreas disponíveis para recolhimento de entulho, potencial de industrialização dos materiais e agregados e possibilidades de comercialização do refugo – madeira, metais, papel e plástico. Essas avaliações irão possibilitar o levantamento de viabilidade econômica do trabalho de reciclagem: o dimensionamento de equipamentos e instalações necessárias à trituração e ao beneficiamento do material; à avaliação do agregado reciclado como produto final ou seu uso em artefatos dosados in loco. Dessa forma, pode-se afirmar que o potencial de utilização dos RCD na reciclagem depende de um diagnóstico da situação dos resíduos.
John (2001) classifica a reciclagem dos resíduos em primária e secundária. É primária quando realizada dentro do mesmo processo que o originou; possui grande importância na produção do aço e do vidro, apesar de nem sempre ser técnica ou economicamente viável, e existem dificuldades com a pureza e a necessidade de um controle estreito da uniformidade das matérias-primas. A secundária está definida como a reciclagem de um resíduo em outro processo produtivo, diferente daquele que o originou, e apresenta inúmeras possibilidades. John constata que a maioria dos materiais utilizados na construção civil é formada por composição e produção simples, aceita variabilidade razoável e exige baixas resistências mecânicas; dessa forma, afirma que a “reciclagem secundária dos resíduos é alternativa que ainda deve ser explorada”.
A implantação de tecnologias que visem à reutilização e à reciclagem desse material, por meio de um processo de gestão adequada, será significativa mesmo com a implantação de programas de minimização e redução de perdas.
Pesquisadores (JOHN, 2001; PINTO, 2001) alertam para os riscos apresentados pela reciclagem de resíduos sólidos:
·         Empirismo e falta de tradição em inovação tecnológica, aliada à longa durabilidade requerida, têm significado desempenho inadequado de novas tecnologias introduzidas no mercado.

·         Muitos resíduos são considerados de alto risco, pois possuem elevadas concentrações de espécies químicas perigosas.
A proposta de uma metodologia para reciclagem de resíduos, apresentada por John (2000), leva em consideração aspectos que envolvem a caracterização físico-química e micro - estrutural do resíduo, incluindo o seu risco ambiental; a possibilidade de ser aplicado na construção, considerando as características dos resíduos; o desenvolvimento de diferentes aplicações e processo de produção baseado na Ciência dos Materiais; a análise de desempenho perante as diferentes necessidades dos usuários para cada aplicação específica; a análise do risco ambiental do novo produto, pela contaminação do lençol freático, entre outros; a abordagem do ciclo de vida “do berço à sepultura”; a viabilidade econômica; e a possibilidade de transferência de tecnologia.




A construção civil caracteriza-se como um mercado conservador, com pouca experiência em inovação tecnológica; por isso, um novo produto no mercado irá exigir planejamento e adequação técnica. A confiança nesse novo produto poderá ser desenvolvida por meio das vantagens da reciclagem, como (PINTO, 1999):

• Redução do descarte inadequado, evitando alagamentos, deslizamento de encostas, proliferação de vetores de doenças, poluição etc.

• Otimização do uso dos aterros.

• Transformação de uma fonte de despesa em fonte de faturamento ou redução de despesas de deposição.

• Redução de custo no orçamento municipal.

• Substituição de parte dos agregados naturais empregados na produção de concreto, argamassa, blocos, tijolos, pavimentos etc.

• Redução dos custos de aquisição de matérias-primas, preservando reservas naturais.
• Criação de alternativa para as mineradoras.

• Redução do consumo de energia e da geração de CO2 na produção e no transporte de materiais.
• Contribuição no desenvolvimento de ações dirigidas à minimização dos resíduos e ao gerenciamento ambiental.

Pesquisadores apontam para a necessidade de uma rede eficiente de captação de resíduos, consolidando um sistema de reciclagem, realizando programas informativos e educacionais, com a participação da população no processo de reciclagem, pois ela é a geradora de resíduos e consumidora dos materiais provenientes da reciclagem. Por isso, a comunidade deverá ser instruída sobre a importância da prática do descarte adequado.
Fonte do texto:.ietsp.com.br/ UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS/Nelma Almeida Cunha